sexta-feira, 25 de março de 2011

Outra Vez em França, por Nuno Diniz, Chefe Executivo da York House

Com a devida vénia à INTER MAGAZINE e ao seu Director e meu bom amigo Paulo Amado, transcrevo este interessante relato de uma viagem a França, LYON, do nosso Chefe Nuno Diniz


Outra vez em França (e será que não fica farto?)

Indo eu, indo eu, não a caminho de Viseu mas sim de Lyon, numa viagem quase sem história, não fora a criancinha que ao meu lado se ia babando (felizmente para cima da mãe), a mais uma vez inenarrável sandes com que a Tap insiste em nos brindar (quem será o génio que inventa aquele bocado de pão borrachoso com os mais infames recheios?) e o careca estranhamento parecido com o reverendo Louçã, que olhava com ar de reprovação para o meu ipod. Senhor careca, existe uma opção nos telemóveis e outros primos, que os deixam num estado de dormência tal, que não conseguem atingir o objectivo de arrasar com os sistemas electrónicos dos aviões!

Uns minutos antes de aterrar lá veio o comandante, com aquela voz de comandante difícilmente entendível, avisar os crédulos que estava o céu nublado (não estava não senhor) e que a temperatura na cidade era de 11 graus (enganou-se em 9, pois estavam apenas 2 e um espectacular céu azul!)

Passagem rápida pelo hotel e já com o cachecol instalado, ala para os Halles, misto de mercado finório e restaurantes de gente bonita e com tempo livre, todos (e são mais de uma dúzia) completamente cheios, mas onde ao fim de uma meia hora com os estômago a vociferar contra mim e contra a sandes da Tap que não comi, lá se arranjou um lugarzito inacreditavelmente apertado, e como por artes mágicas chegaram impantes e ufanas as ostras porque eu suspirava desde o início do ano. Foram-se as ostras e vieram os mexilhões com o seu molho de natas e curcuma, que também se evaporaram com a ajuda ensopada da baguette, e porque nunca sabemos se vamos morrer nos próximos 10 minutos, ainda se provou um prato real de marisco que por pudor me vou abster de comentar. A comemoração do regresso a Lyon finou-se com um espectacular Saint Marcellin que me fez mais uma vez acreditar que até os políticos são boas pessoas.

Nessa noite (na verdade 3 horas mais tarde) tinhamos marcado mesa numa das Brasseries de Paul Bocuse, Le Sud, onde encontrámos o Francisco Gomes com alguns amigos, a preparar-se para ir jantar sem marcação… apesar de 2 minutos depois ter saído para ir procurar outro restaurante, manteve a boa disposição…

As Brasseries são geralmente espaços de comida confortável, bem feita, sem grandes apelos à intelectualidade e as de Bocuse não são excepção. Tudo funciona sobre rodas, serviço eficaz e, apesar do movimento louco, simpático.
E devido a ser bom, dois dias mais tarde, regressei a uma outra das casas do velho Chefe: L’Ouest.
Juntando as duas ficam aqui as memórias rápidas:
Pâté en Croute com pato, foie gras, porco e geleia de vitela com Porto, que estava tão bom que quando me lembrei da fotografia já tinha dado uma dentada.
Caracóis à provençal, o ultra clássico, com o alho e a salsa, servidos com croutons impregnados em manteiga.
Marmita do Pescador como em Marselha, uma bouillabaisse fina e sem espinhas…
Uma salada Cesar porque devemos comer saladas!
Uma vitela branca com batata assada e a inevitável demi glace
Rins de vitela com mostarda (tenho que fazer isto um dia destes)
Um delicioso naco grosso de fígado grelhado com puré de batata, evidentemente perfeito
E para acabar um regresso à juventude esquecida com o conforto aconchegante de um Babá au Rhum Tradition, com o rum a ser o obrigatório “brun agricole”.

No regresso a Lisboa, assisti mais uma vez ao filme do iogurte explosivo. Fenómeno recorrente e que deixa os incautos, com o lacticínio esparramado no casaco. Um dia destes conto!

Nuno Diniz
Cozinheiro e Gastrónomo

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